Em julho do ano passado comprei minha bike e passei a percorrer sorridente e me deliciando pela cidade do Natal. E apesar de todo o prazer que me proporcionei quando decidi a usar a bicicleta como meio de transporte e lazer, o dia a dia nas ruas foram me apresentando tantas dificuldades e medos que é difícil descrever. Ouvir diariamente a minha mãe implorando para que eu não ande é um apelo doloroso de ser negado. E aos poucos você vai vendo e ouvindo cada absurdo que acontece na pista que seu coração na hora do rush acelera e te toma o ar. Estamos virando estatísticas em acidentes? Diariamente! Como equilibrar na balança paixão e medo? Se fizermos aqui uma pesquisa, quantos não já deixaram de pedalar por causa da violência nas ruas?! Estou compartilhando do meu medo e de minha dor não para enfatizar as dificuldades e riscos, mas para pensarmos como superarmos os desafios de construirmos uma cidade melhor para convivermos! Não estamos diante de algo impossível como nos ensinam todos os dias! Querem nos fazer acreditar que as coisas são assim e nos afastam de nossos espaços de convivência. As cidades estão frias, petrificadas e assaltadas. Muros crescem, concretos se estendem e a violência nos consome. Enquanto isso, quando participamos de reuniões sobre os projetos previstos de mobilidade urbana permanece o mesmo: mais para carros. Para essas pessoas que trabalham como loucas para possuir esse automóvel, que os levam loucamente para seus trabalhos, que sempre se atrasam e querem compensar no volante toda a frustração de uma vida sem tempo de viver. Um bando de cães loucos que não perdoam crianças e velhinhos nas ruas. Não respeitam sinal vermelho, faixa de pedestre nem uma simples placa de contramão! E assim vão ceifando vidas e colocando culpa sabe-se lá em quem e pedindo perdão aos seus deuses como se uma vida pudesse ser reposta. Enquanto isso projetos não saem dos slides lá na STTU, enrolando os ciclistas com mil reuniões, e a incompetência e a arrogância de profissionais tomam conta dos espaços que deveriam agilizar a execução das obras que demandam a sociedade. E, quando veem um ciclista protestando na porta gritam: "vão arranjar uma lavagem de roupa", totalmente desprovido de conhecimento e vivência sobre a própria realidade em que vive.
E vamos nos perdendo uns dos outros...

Na sexta feira dia 31 de julho, Cristiane da Silva, 33 anos, moradora do município de Parnamirim, mais uma ciclista que perdeu sua vida por imprudência e prepotência de um motorista. Uma cultura insana que não recebe freio apenas mais incentivos, enquanto vamos contando os companheiros e companheiras que vamos perdendo. Pedalava todo dia para resolver tudo em seu bairro ou no centro. A bicicleta é um meio essencial para a sobrevivência da população de nossas cidades. Um passeio em qualquer dia na cidade de Parnamirim é possível perceber a diversidade de ciclistas pelas ruas, uma paisagem linda e que demonstra a necessidade de se pensar com urgência as vias a serem compartilhadas com segurança por todos os meios de locomoção humana. Uma cidade para todos e todas!
Parnamirim, 03 de Agosto de 2015
Eva Timboo
2 comentários:
Belo texto, me identifico com o seu ponto de vista.
Belo texto, me identifico com o seu ponto de vista.
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