No sábado (13), mais de uma centena de ciclistas desfilou pelas ruas da cidade de São Paulo com os corpos pintados ou simplesmente sem roupas, chamando a atenção para a fragilidade de quem usa a bicicleta no cotidiano.
A 3ª Pedalada Pelada da capital seguiu o calendário mundial e consolidou a cidade entre as dezenas que anualmente hospedam encontros desse tipo de encontro.
Na primeira edição, em 2008, a Pedalada Pelada terminou na frente da delegacia para exigir a libertação de um ciclista que havia sido preso. Em 2009, a corrida de Tom e Jerry foi marcada pelo forte aparato policial, que impediu muita gente de tirar a roupa no Santuário da Avenida Paulista (ainda que, depois de uma fuga estratégica pela esquerda, muitos tenham se livrado da fina camada de tecido que os protege diariamente nas ruas).
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Em 2010 os participantes da Pedalada Pelada resgataram um pouco do significado da frase “sem heróis, sem líderes, sem fronteiras” e a massa rizomática deu mais um “perdido” nas dezenas de homens de farda mobilizados para impedir a nudez.
Apesar de quatro detenções, a pedalada terminou em clima ameno e festivo na Praça do Ciclista, onde até agentes infiltrados da polícia procuravam “lideranças subversivas”, enquanto alguns cidadãos lembravam ao capitão da PM que o movimento de ciclistas em São Paulo é essencialmente pacífico e só quer colaborar com as transformações necessárias para uma cidade mais humana e agradável. Memorável foi a salva de palmas aos policiais ciclistas que chegaram na Praça ao final do rolê.
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Nesta edição, urubus midiáticos não estiveram presentes para sexualizar ou ironizar a manifestação. O clima, do começo até o fim, era de respeito e festa. O faça-você-mesmo prevaleceu em 2010: vários ciclistas vieram fantasiados, mascarados, pintaram os corpos, trouxeram cartazes e até panfletos para lembrar que o ciclista na rua não está protegido por nenhum dispositivo de segurança como air-bags ou carapuças metálicas.
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Nesta edição, urubus midiáticos não estiveram presentes para sexualizar ou ironizar a manifestação. O clima, do começo até o fim, era de respeito e festa. O faça-você-mesmo prevaleceu em 2010: vários ciclistas vieram fantasiados, mascarados, pintaram os corpos, trouxeram cartazes e até panfletos para lembrar que o ciclista na rua não está protegido por nenhum dispositivo de segurança como air-bags ou carapuças metálicas.
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A Pedalada Pelada certamente questiona outros valores além da predominância dos motores nas ruas.
Aceitar a bicicleta como um veículo legítimo e digno de respeito talvez não tenha relação direta com a quebra do falso-moralismo pré-histórico que ainda assola o Brasil – é certamente muito difícil passar a mensagem de que a nudez da Pedalada Pelada não tem nada a ver com as bundas sexualizadas dos programas televisivos da “família brasileira”.
No entanto, a bicicleta tem sido peça fundamental de muitas transformações indiretas no olhar, no comportamento e nas relações entre os cidadãos e destes com seu habitat. Talvez aceitar a nudez não sexualizada esteja tão distante quanto incorporar a bicicleta realmente ao cotidiano da cidade e às políticas públicas.
.A experiência da Pedalada Pelada 2010 em São Paulo trouxe aprendizado para os que participaram, reforçou a solidariedade e a noção de ação coletiva. Além disso, a realização pelo terceiro ano consecutivo abriu caminho para que a quarta, a quinta ou décima edições sejam bem mais enfáticas na tentativa de visibilizar o ciclista como parte do espaço urbano.
A bicicleta abre olhos, transforma cidades e muda a cabeça dos seres condicionados pela linearidade dos motores e pela lógica do desenvolvimento insustentável. Nus, ciclistas diante do tráfego podem não trazer nenhuma reflexão imediata que não algumas risadas da população. Mas talvez o estranhamento causado pela massa alegre seja importante para a aceitação do novo.
Retirado do site Apocalipse Motorizado.
Fotos por Edugreen e Thiago Santos.
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