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Bicicletas são apontadas como a grande saída para as cidades, mas o trânsito seguro de ciclistas depende de uma política de mobilidade sustentável e a construção de ciclovias, ciclofaixas e áreas compartilhadas
Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual
Publicado em 25/09/2009, 16:23
Bicicletas são apontadas como a grande saída para as cidades, mas o trânsito seguro de ciclistas depende de uma política de mobilidade sustentável e a construção de ciclovias, ciclofaixas e áreas compartilhadas
Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual
Publicado em 25/09/2009, 16:23
Disputa entre meios de transporte mostrou que bicicleta é mais rápida que helicóptero (Foto: Agência Brasil/Antonio Cruz)
A disputa diária entre carros, motos, pedestres, ônibus e bicicletas ganhou ares de competição pedagógica em São Paulo (SP), durante um desafio que reuniu diversos tipos de transportes. Helicóptero, ônibus, trem, metrô, bicicleta, carro, um cadeirante utilizando transporte público, uma pessoa correndo e outra andando a pé participaram do "Desafio Modal", que ao final provou o que muita gente desconfiava: as biciletas são mais rápidas que os automóveis no trânsito caótico das grandes cidades.
Na briga por tempo e espaço, a bicicleta se saiu melhor em 2008 e 2009, seguida pela moto. Em 4º lugar ficou o helicóptero. O homem que fez o percurso correndo, chegou antes do carro e o pedestre chegou 10 minutos depois da pessoa motorizada. Todos partiram do mesmo local e de formas variadas e chegaram ao mesmo ponto final.
“As bicicletas não são apenas uma alternativa. São realmente uma saída para o problema das grandes cidades”, afirmou Cláudio Silva, técnico da Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades.
Apesar do apelo ambiental e dos benefícios à saúde, as bicicletas andam em último plano no planejamento das cidades. Prova disso e da dificuldade de os gestores públicos buscarem alternativas ao mundo motorizado, foi a baixa adesão das cidades brasileiras ao Dia Mundial Sem Carro, realizado no dia 22 de setembro em 40 países.
Às vésperas do Dia Mundial Sem Carro, o Desafio Modal, realizado em 17 de setembro, foi a maneira encontrada por ativistas da bicicleta para demonstrar que há várias formas de transporte e, principalmente, há alternativas ao carro.
Segundo, Nazareno Afonso, coordenador da Associação Nacional dos Transportes Públicos e diretor da ONG Rua Viva, responsável pelas atividades do Dia Nacional Sem Carro no Brasil, a falta de participação das cidades em parte é explicada pela mídia intensa das indústrias automobilísticas e pelo receio dos políticos brasileiros em falar sobre qualquer restrição a automóveis. “As pessoas tem receio de fechar uma rua. Fecha-se em situações festivas. Mas fechar com o tema da cidade sem carro é o problema”, esclarece.
“Na cabeça dos políticos, o automóvel é um item que não se pode mexer porque tira votos”, aponta Afonso.
Mobilidade sustentável
Para o especialista em mobilidade urbana, o privilégio do automóvel está com os dias contados, por uma questão básica de espaço e mobilidade. “Quando se fala de um grande congestionamento em São Paulo, significa que 50% dos proprietários de carros estão nas ruas. Imagine quando sair todo mundo no mesmo horário. A cidade para”.
A cultura do automóvel, segundo ele, vai além da necessidade de deslocamento. “É um modo de vida, uma expressão do ser humano. Na mente das pessoas, o carro demonstra quem ele ou ela é. Representa mais do que a própria casa”, constata.
De acordo com Afonso, o ideal para as cidades é uma equação não muito simples, mas necessária: menos carro e mais transporte coletivo, integrado com ciclovias.
Em entrevista à Rede Brasil Atual, ele adverte que mobilidade sustentável só se atinge com investimentos em um sistema de transporte público de alta capacidade, com corredores de ônibus, de uma ou duas faixas exclusivas, com linhas diretas e “paradoras”; metrô e veículos leves sobre trilhos, que Afonso chama de bonde moderno, muito comum na França.
“Para fechar o que chamamos de sistema estrutural dentro de um conceito de mobilidade sustentável, deve-se construir terminais para integração de todos esses serviços”, complementa o especialista.
Redes cicloviárias também devem estar integradas ao sistema estrutural, com paraciclos, ciclofaixas e ciclovias. Afonso aposta, inclusive, na substituição dos estacionamentos em vias públicas por ciclovias. “Você transfere o local destinado ao estacionamento de carros para os ciclistas. As cidades estão descobrindo cada vez mais a importância das bicicletas como forma de transporte”.
Para ele, a mobilidade sustentável implica em restrição aos carros, com estacionamentos em locais específicos e criação de pedágio urbano.
Vantagens da magrela
Simples ou sofisticadas, mas sem dúvida, úteis e ágeis, a utilização de bicicletas, as famosas magrelas, é desejável por muitos motivos enumera Afonso: “É um instrumento de combate à obesidade, garante um futuro saudável, não polui e ainda se desloca muito mais rápido que outros modais”.
Segundo o Ministério das Cidades, o Brasil tem 2.505 km de estrutura cicloviária, entre ciclovias, ciclofaixas e espaços compartilhados, como calçadas regulamentadas. A cidade do Rio tem a maior estrutura para bicicletas, com 160 km, seguida por Curitiba (PR) com 140 km. De acordo com Afonso, cidades como Sorocaba (SP), Blumenau (SC), Brasília (DF) e Porto Alegre (RS) descobriram a importância do transporte por bicicletas e estão investindo em ciclovias.
Afonso destaca que é preciso construir redes cicloviárias regionais e locais que se conectem para dar facilidade e desenvoltura aos usuários. “Já está provado que a bicicleta tem uma autonomia de 12 km, mas há casos de trabalhadores que fazem 40 km por dia, por necessidade de locomoção e falta de recursos para outro tipo de transporte”, admite.
De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de bicicletas e o 5º maior consumidor delas. Em 2008, foram vendidas 6 milhões de unidades e até 2005, rodavam em território brasileiro mais de 60 milhões de magrelas.
Já o número de carros operando pelas cidades é incomparavelmente maior. Balanço do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran) revela que, só no estado, o número de carros aumentou em 1,2 milhão de unidades nos últimos 12 meses. Enquanto a capital paulista tem 6,5 milhões de carros registrados para trafegar em 16 mil km de vias, as bicicletas têm apenas 42 km de ciclovias, cita o vereador Chico Macena (PT-SP), da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara Municipal.
Em São Paulo, a prometida ciclovia na Radial Leste, um dos principais pontos de congestionamento da capital, foi construída em parte, mas não tem sinalização e atualmente está tomada por lixo, denuncia Macena.
O pior, afirma o parlamentar, é que a pesquisa origem/destino realizada a cada dez anos pelo Metrô de São Paulo registrou um aumento de 87% na utilização de bicicletas como meio de locomoção. Em 2007, calcula-se que houve 300 mil viagens diárias com esse tipo de transporte. De acordo com o estudo, 71% das locomoções com bicicleta nos dias úteis ocorreram por causa de trabalho, 12% em razão de compromissos com educação e 4% com atividades de lazer.
Defensor do uso de bicicletas para deslocamentos até 4 km, o vereador critica a política de mobilidade urbana do prefeito Gilberto Kassab (DEM). “A prefeitura vive de uma imagem de preocupação com o meio ambiente quando na verdade suas ações acontecem em sentido contrário”.
O vereador relata que as ciclovias de São Paulo, além de serem em número reduzido também são desconectadas e não oferecem nenhuma segurança a seus usuários. Macena aponta a criação de ciclovias como uma das saídas para o entrave que se transformou o trânsito nas grandes cidades. “Mágica não existe. A saída passa por três pontos: investir em transporte coletivo de qualidade, como o Metrô e corredores de ônibus; um sistema cicloviário e a descentralização da oferta de serviços na cidade”.
Projeto brasileiro
Para o Ministério das Cidades, a inclusão da bicicleta nos deslocamentos urbanos é um importante elemento para a construção de cidades sustentáveis, além de ser uma “forma de inclusão social, de redução e eliminação de agentes poluentes e melhoria da saúde da população”.
Para incentivar a inclusão da bicicleta nos sistemas de transportes, o governo federal investiu no período de 2005 a 2009, R$ 12 milhões em ações de Apoio a Projetos de Circulação Não Motorizada e R$ 4,4 milhões na integração de ciclovias a Rede de Transporte Público, num total de 57 projetos.
“A bicicleta é fundamental. Com ela, você pode acessar um metrô, um terminal de ônibus e não necessariamente vir de carro. Vamos cuidar mais do meio ambiente, diminuindo a emissão de poluentes”, disse Marcio Fortes, ministro das Cidades, durante atividades do Dia Mundial Sem Carro, em Brasília, quando prometeu mais investimentos na construção de ciclovias e bicicletários em todo o país.
Obs.: Matéria colocada à pedido de nossa leitora Tatiana, através do nosso mural de idéias, parabéns ótima matéria Tatiana, a bicicletada é feita com a participação de todos.
3 comentários:
Os especialistas estão dizendo o que a Bicicletada sempre soube e disse...
Nenhum carro, mas sim ônibus e bicicletas!
\o/
Alê e seus buzões!!!!! já comprou a motoca? rsrsrsr
Olha só, estou contigo apesar de não gostar de buzão, quem sabe um investimento maciço no transporte de massa, me faça mudar de idéia?.
motoca só para depois das 22h, quando não tem mais ônibus...
Antes disso, porque eu ia me estressar no trânsito, "competir por espaço na selva de pedra", se posso tranquilamente ouvir uma música, bater um papo ou refletir sobre a vida no busão?
Amigo, do mesmo jeito que no caso da bicicleta, nós temos que lutar pelo transporte público para ele melhorar e não esperar que ele "fique bom" para nós pensarmos nele...
Vamos lá, Massa Crítica Natal!
\o/
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