Engarramento: só obras não resolvem - Tribuna do Norte

sábado, 7 de maio de 2011

Se você é vítima dos engarrafamentos nos horários de pico em Natal, não tem muita opção. A falta de obras estruturantes, ineficiência do transporte de massa e o maior número de veículos que chegam as ruas todos os dias anunciam que ainda teremos problemas por muito tempo. A frota de veículos de Natal praticamente triplicou em dez anos, chegando a mais de 310 mil unidades circulando pela Capital. Com certeza, nesse mesmo período a quantidade e a melhorias de vias na região não aumentou nessa mesma proporção. E para resolver esse problema, a solução mais apontada é a melhoria e expansão do transporte público. Mas quando as mudanças serão feitas nesta modalidade de deslocamento em massa, ninguém sabe.

 
alex régisEngarrafamentos estão por toda Natal. Aumento da frota de veículos, transporte público ineficiente e falta de obras são as principais causasEngarrafamentos estão por toda Natal. Aumento da frota de veículos, transporte público ineficiente e falta de obras são as principais causas
Em um ponto, o secretário municipal de Trânsito adjunto, Haroldo Maia, concorda com o arquiteto Moacyr Gomes, especialista em obras de infraestrutura. Para ambos, a solução para o caótico trânsito natalense vai além das anunciadas obras de mobilidade, cuja estimativa de consumo de verbas se aproxima dos R$ 600 milhões.  “A gente reconhece que as obras de engenharia não acompanham o crescimento da frota de veículos”, afirmou Haroldo Maia. 

  Ou seja, mesmo diante do início das intervenções, o trânsito em Natal poderá ficar pior do que já está em poucos anos. É o que adverte Moacyr Gomes. Ele defende a criação de vias binárias,   com apenas uma mão de fluxo para veículos e uma faixa contrária para a circulação dos coletivos. “As obras tem prazo de validade, é fato. Não consigo entender os argumentos da Prefeitura quando diz que a Prudente de Morais e a Hermes da Fonseca/Salgado Filho, não podem se transformar em vias binárias”, comentou.

  De acordo com o arquiteto, o fluxo das linhas de transporte coletivo que circulam por essas vias permaneceria inalterado, caso transformadas em binárias. Do outro lado da discussão, Haroldo Maia acredita que este projeto é inviável e a solução é a ampliação do transporte público. 

 Para isto, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) desenvolveu um projeto e o inscreveu no Ministério das Cidades para concorrer ao financiamento do Plano de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2).

 Orçado em R$ 150 milhões, o projeto contempla seis das vias mais movimentadas da capital (veja quadro). Nenhuma desapropriação está prevista nas obras, nem a construção de novas estruturas. Além disso, a Secretaria estuda a implantação de um horário específico para a circulação de veículos de grande porte, como carretas e caminhões. Todas as medidas tem um único intuito: dar fluidez ao tráfico e desarticular os gargalos que causam engarrafamentos.

 A possibilidade de se adotar o rodízio de placas para circulação de veículos, como ocorre em São Paulo, foi descartada por Haroldo Maia. “Nossa frota e malha viária ainda não chegaram ao ponto de necessitar fazer rodízio”, disse. O secretário afirmou, porém, que é preciso estar atento às questões da mobilidade. “O trânsito precisa fluir para que a economia da cidade não trave”, advertiu.

 Moacyr Gomes questiona, contudo, se os responsáveis pelos projetos que serão desenvolvidos em Natal, conhecem de fato o conceito da palavra mobilidade. “Eu não vejo um projeto de mobilidade. Eu vou pagar, como cidadão, por um projeto que eu não sei como será aplicado. As pessoas falam em mobilidade urbana sem saber o que é isso. Mobilidade é planejamento do mais alto nível, é contagem, é matemática”.

Solução é melhorar transporte público

Defendidas as teses de que a solução para o desafogamento do trânsito em Natal é o transporte público, a Prefeitura de Natal irá abrir processo licitatório para concessão de novas linhas de ônibus. Ainda não há, porém, datas específicas para o início e término do processo. De acordo com Haroldo Maia, a licitação deveria ter sido feita no ano passado, mas a prefeitura pediu adiamento de seis meses. Este prazo expira em junho.

  O secretário não afirmou, mas o processo demandará tempo. Uma empresa com expertise em transporte público será contratada para identificar as necessidades da capital, baseada na avaliação de estatísticas cedidas pela Semob. “O estudo apontará o desenvolvimento de uma nova malha/rede de linhas e a indicação de modelos de ônibus a serem utilizados pelas empresas de transporte público”, garantiu Maia.

 Existe a possibilidade de serem adotados ônibus biarticulados, com capacidade até duas vezes maior do que os que conduzem os passageiros em Natal atualmente. Sobre a expectativa em torno das mudanças no trânsito que poderão ocorrer em breve, Haroldo Maia preferiu não criar expectativas. “Estamos diante de muitos projetos e na fase de contratação de uma empresa especializada neste assunto”, resumiu.

 Para Moacyr Gomes, os projetos que poderão ser desenvolvidos na capital não garantem a resolução do problema. “É preciso planejamento. O ideal são transportes coletivos com qualidade. Segurança, precisão de horário e preços acessíveis são atrativos para que as pessoas deixem os veículos em casa e andem de ônibus. Isso, infelizmente ainda não existe em Natal”, afirmou. 

transporte

De acordo com o Departamento de Estudos e Projetos da Semob, mais de 10 milhões de pessoas foram transportadas por ônibus nos meses de 2010. Veja abaixo dados relacionas ao transporte público. Através dos números, podemos perceber a importância do transporte público nas médias e grandes cidades.    

- Tarifa - R$ 2,20        

- Número de linhas - 91    

- Frota total (quantidade de ônibus em abril de 2011) - 720    

- Frota efetiva (a que está circulando atualmente) - 645    

- Total de empresas operadoras - 7        

- Passageiros transportados por mês (média 2010) - 10.333.724

- Passageiros transportados por dia (média 2010) - 413.349                

Fonte: DEP/Semob                

Mobilidade: sobram projetos, falta ação

São muitos os projetos de mobilidade urbana e também a quantidade de recursos disponíveis para a execução das obras. Quase seis meses depois da assinatura do contrato da Prefeitura do Natal com a EIT Construções, vencedora da licitação do Lote 1 das obras, nenhum sinal de poeira ou desapropriação de terrenos indica o início do processo. O Município tem garantido cerca de R$ 300 milhões em financiamento para ser aplicado com as obras de mobilidade urbana somente com o PAC 1.

 O início da execução do Lote 1 estava previsto para o primeiro quadrimestre de 2011. O titular da Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura (Semopi), Dâmocles Trinta, acredita que as obras iniciarão em junho. Elas darão início a um conjunto de intervenções que beneficiarão, segundo a Semopi, mais de um milhão de habitantes em Natal e região metropolitana. 

PAC 2

 Caso o projeto inscrito pela Semob no Ministério das Cidades no dia 17 de maio, o Município irá receber mais R$ 150 milhões através do PAC 2 (Mobilidade Grandes Cidades). É este o valor orçado para a implantação do Plano de Reestruturação para Integração dos Corredores de Transporte Público de Passageiros de Natal. 

 Um outro projeto fruto de uma parceira entre o Governo Estadual e Municipal, cujas obras estão paradas há quase dois anos, o Pró-Transporte, poderão ser retomadas em breve. De acordo com Haroldo Maia, o hiato nas obras se deu devido ao processo de desapropriação dos imóveis no entorno do viaduto do conjunto Nova Natal.

 Em consequência dos atrasos, as obras do Pró-Transporte que estavam avaliadas em R$ 72 milhões, terão um aporte de mais R$ 18 milhões. Os prazos para conclusão das obras, cuja contratação é de responsabilidade do Município, não tem prazo definido. 



Fonte: Site Tribuna do Norte
www.tribunadonorte.com.br

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